4 de novembro - Marighella VIVE!

Era noite de 4 de novembro de 1969, num estádio de futebol, em São Paulo, Santos  e Corinthians duelavam. O  jogador de futebol mais badalado, na época, não era Neymar. Era Pelé. E Pelé, de boca fechada, é e foi inigualável. Se fosse hoje, Pelé seria até marca de sabonete pra cachorro. Na ocasião, Pelé aproximava-se do milésimo gol e o país acompanhava o intento com o devido mérito do atleta. Na mesma cidade de São Paulo, Carlos Marighella fora atraído a uma emboscada na Alameda Casa Branca. Dezenas de policiais o aguardavam de tocaia. Inclusive o famigerado Sérgio Paranhos Fleury, notório torturador e ocultador de cadáveres, serviçal das botas oficiais. Marighella foi alvejado de forma infame e covarde, prática correlata da ditadura civil e militar e sua tirania. Para muitos era o início do fim da guerrilha.

No entanto, o nome de Marighella não foi banido da história política brasileira. Certamente, os aparelhos privados de hegemonia da classe dominante não lembrarão do fato. Aliás, o que mais fazem é desmemorializar o conteúdo da história e sua rica constelação de brasileiros que ousaram resistir. Nomes de pessoas que merecem ser lembrados sem a necessidade de idolatria, tais como: Carlos Lamarca, Joaquim Câmara Ferreira e Virgilio Gomes da Silva, entre muitos homems e mulheres que são imprescindíveis nos dias de conformismo e transformismo exacerbado.
Marighella incomoda aos conversadores e aos de esquerda por vários fatores:
Aos conservadores pela sua tenaz retidão política comunista. Se cometeu equívocos, se cometeu erros, não os fez conciliando. E, sobretudo, foi coerente com seu histórico de lutador incansável pela emancipação dos trabalhadores e trabalhadoras. Além disso, Marighella, um mulato baiano bem humorado, traduz uma chama de indignação que - como outras  - incendeia a frieza da razão e aquece o calor da utopia. Por fim, Marighella simboliza a resistência, ou, mais ainda, a capacidade de resistir à opressão aonde ela apareça.
Aos  de esquerda incomoda por formular uma concepção de organização que fez severa crítica a concepção de partido que reinava nos agrupamentos da esquerda. Se sua tática e estratégia foram derrotadas, a crítica ao modelo de partido não o foi e me parece, em alguns quesitos, bastante atual. Por outro lado, sua trajetória política nos setores de esquerda foi marcara pela tolerância e pela divergência, mas, sobretudo, pela ternura. A prática era o seu critério de verdade, como gostava de lembrar.
Em 5 de dezembro, Marighella completará cem anos. Certamente, outros incomôdos persistem. Mas, os limites desse espaço e a intenção de lembrar nos impõe a singela tarefa de comemorar. De forma breve e singela. Afinal, lembrando também resistimos.
Então, o jogo acabou,  e Pelé não fez o milésimo gol. Naquela época, os comunistas estavam no Araguaia e em outras cercanias do país desenvolvendo a guerrilha rural e urbana. Ou organizando a luta de massas na cidade e no campo.
Triste paradoxo: em tempos de democracia tutelada, os ditos "comunistas" de hoje, que não o são, escracham a sua verdadeira face em escusas tramóias. De fato, a prática é o critério da verdade.  
 
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EDSON TEIXEIRA
"A PRÁTICA É O CRITÉRIO DA VERDADE" (CARLOS MARIGHELLA)

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