Alojamento: metade da obra pelo dobro do preço

Reforma da moradia estudantil custará R$ 10 milhões. Alunos serão transferidos para alojamento provisório orçado em R$ 18 milhões
Foto: Elisa Monteiro
Elisa Monteiroelisamonteiro@adufrj.org.br


A obra do alojamento estudantil do Fundão está atrasada e mais cara. Já são quase dois anos de atraso e o custo do projeto dobrou. A reforma estava prevista para acabar em outubro de 2014, mas a reitoria informa que só irá entregar a metade do trabalho em setembro. Para o restante, não há prazo definido. Até agora, já foi consumida quase a totalidade do orçamento previsto inicialmente. De acordo com a administração, um ajuste contratual elevou os gastos iniciais de R$ 8 milhões para R$ 10,6 milhões. Serão desembolsados também R$ 18 milhões com instalações provisórias para 160 alunos. O valor corresponde a quase o dobro do que seria gasto, por exemplo, com o aluguel de apartamentos de dois quartos para quatro pessoas — comportando os mesmos 160 estudantes — no Jardim Guanabara, um bairro nobre da Ilha do Governador, nas imediações do campus.
O comparativo baseia-se no levantamento feito pela Adufrj em site de classificados de imóveis, projetando valores atuais pelo período de durabilidade informado (10 anos) para o alojamento improvisado, na forma de contêineres. O modelo de aluguel é prática comum adotada em outras universidades, como a UnB.
Reforma não contempla áreas comuns
No site do Escritório Técnico da Universidade (ETU), a informação é que aproximadamente 65% do gasto previsto para a obra do alojamento, R$ 6,7 milhões, já foram executados na reforma apenas do bloco feminino. A administração central diz que a recuperação dos halls, escadas e pavimentos do alojamento estudantil não está contemplada no contrato realizado. “Em setembro, vamos entregar a ala feminina. O local estará apto a receber novo mobiliário e ser ocupado pelos estudantes, enquanto preparamos a licitação para o bloco masculino, cujas obras estão previstas para começar em seguida”, explicou Paulo Bellinha, diretor do ETU, que rejeita o termo “contêineres” para descrever a proposta da administração. “São módulos habitacionais, não contê- ineres (reafirmo)”, ressalva. O local escolhido para o alojamento improvisado fica em frente ao Cenpes II e ao lado do novo prédio do Instituto de Física, onde hoje há um estacionamento de ônibus.
Contrato pela metade
Perguntado sobre os prazos, o pró- reitor de Gestão e Governança, Ivan Carmo, disse que houve uma interrupção do atual contrato para a sequência da reforma no bloco masculino. A medida teria sido tomada em comum acordo com a empresa Engenew. A firma teria perdido o interesse na continuidade do serviço em função da defasagem dos valores, passado tanto tempo. Já a UFRJ alega como vantagem da interrupção do contrato “a experiência” para executar com maior segurança o segundo bloco, evitando aditivos inesperados. “Para a próxima contratação, visando à reforma da ala masculina, serão replicadas as soluções de projeto desenvolvidas para a ala feminina, prevendose uma terceira licitação para o térreo e áreas comuns, que podem acomodar novas demandas de uso coletivo, além das fachadas”, justificou Paulo Bellinha.
“Longe do ideal”, diz estudante

Para o representante dos moradores do alojamento, Nelson Morales Junior, o modelo de contêineres “está longe de ser o ideal”. “Mas para quem está vivendo em barracas, um contêiner adaptado com banheiro é a medida emergencial que tem para hoje”. Nelson relatou que a assembleia estudantil concordou com a proposta da reitoria com “a garantia de que os atuais 300 moradores que estão no alojamento serão realocados para eles”. O estudante frisa que, ao longo dos três anos de obras, “uma geração inteira de alunos passou pela UFRJ só conhecendo a precariedade”. Os estudantes pleiteiam, além das vagas no atual alojamento e 160 em contêineres, mais 400 vagas de moradia na antiga Casa dos Estudantes, atual Colégio Brasileiro de Altos Estudos. Segundo o estudante do Direito, a demanda real atualmente está na casa de 12 mil vagas.




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